A recente visita de um embaixador angolano a Moçambique, que transmitiu uma mensagem de apoio enviada pelo presidente de Angola e líder do MPLA, João Manuel Lourenço, levanta questionamentos sobre a linha tênue entre a representação do Estado angolano e a promoção dos interesses partidários do MPLA. Ao agir em nome do MPLA e não do Estado angolano de forma neutra, o embaixador coloca em dúvida a imparcialidade e a própria função diplomática que deveria exercer em nome do país e de seu povo, e não de um partido específico.
Esse episódio não é isolado. Muitos cidadãos e analistas já apontaram que as instituições angolanas têm sido progressivamente “mplarizadas” ao longo dos anos, ou seja, transformadas em extensões do partido no poder, em vez de agirem como representantes imparciais do Estado. Para esses críticos, o fenômeno da “mplarização” das instituições angolanas faz com que o Estado e o partido se tornem praticamente indistinguíveis, levando à percepção de que funcionários públicos, em vez de atuarem com base em valores republicanos e nacionais, agem como “capangas” do MPLA, tanto dentro quanto fora do país.
A atuação do embaixador em Moçambique, em nome do MPLA, não apenas evidencia esse processo de “mplarização”, mas também gera preocupações sobre o grau de interferência política em questões internas de um país vizinho. Em um momento em que Moçambique vive manifestações e questionamentos populares sobre a transparência do processo eleitoral, o apoio explícito do governo angolano a um líder contestado soa como uma intromissão imprudente e uma tentativa de legitimar um governo cuja legitimidade está sendo fortemente debatida.
Essa postura do governo angolano coloca em risco os princípios diplomáticos que prezam pela não intervenção e respeito à soberania dos países. Ao enviar emissários que representam os interesses do MPLA e não do Estado angolano, Angola transmite a mensagem de que prioriza alianças políticas sobre a imparcialidade e o respeito às dinâmicas internas de seus vizinhos. O apoio ao presidente supostamente eleito de Moçambique, especialmente em um contexto onde a população moçambicana luta pela verdade eleitoral, parece mais um gesto partidário do que diplomático e republicano.
Esse tipo de ação também levanta uma questão fundamental: as instituições angolanas representam verdadeiramente o povo de Angola ou servem apenas aos interesses do MPLA? Para muitos críticos, a resposta é clara. A presença de um representante angolano falando em nome do partido e não do país em Moçambique reforça a ideia de que o governo de Angola e suas instituições atuam mais como ferramentas do MPLA, desconsiderando o princípio de que o Estado deve servir a todos os cidadãos, independentemente de afiliações partidárias.
Além disso, essa relação entre o MPLA e a FRELIMO, histórica e de raízes profundas, remonta à época das lutas anticoloniais, mas agora parece mais voltada para manter uma aliança de poder do que para promover o bem-estar democrático dos povos angolano e moçambicano. O apoio mútuo entre os partidos no poder em Angola e Moçambique é visto por muitos como um esforço conjunto para controlar e influenciar politicamente a região, em detrimento dos valores republicanos e democráticos.
Ao final, esse episódio demonstra que, em vez de priorizar a neutralidade e o respeito ao direito dos povos de cada país de resolverem seus próprios conflitos internos, o governo angolano se arrisca a ser visto como um agente de interferência regional, focado em alianças políticas que ignoram a vontade popular. Para os críticos, a “mplarização” das instituições angolanas é uma prova clara de que o Estado angolano se tornou, em muitos aspectos, um braço do MPLA, prejudicando a independência das suas ações e seu compromisso com a diplomacia republicana. Esse cenário é preocupante para aqueles que defendem uma política externa baseada no respeito mútuo e na não interferência, e para os cidadãos que esperam que suas instituições sejam fiéis ao ideal de servir ao país, e não a um partido.
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