A forma de contornar esta situação, defendeu o responsável na Grande Conferência do DN sobre Defesa Nacional, passa pelo "reconhecimento da carreira militar". "É certo", no entanto, que "não se pode competir com mercado civil e é impossível praticar os salários" civis, mas a "carreira é digna" e "tem responsabilidades que outras não têm".
Discursando no painel lado a lado com os chefes dos outros ramos das Forças Armadas (o almirante Nobre de Sousa, da Armada, e o general Mendes Ferrão, do Exército), Cartaxo Alves anunciou que "em 77 jovens, a média mais baixa de formação foi de 15 valores". Com este nível de capacitação, "os jovens não querem ficar na Força Aérea ao fim de 15 anos" e isso "afeta claramente" a prontidão das Forças Armadas nacionais.
As saídas, ressalvou ainda, "não são apenas ao nível dos pilotos". "Até os especialistas são recrutados pelo mercado civil. Vejamos: um capitão, à entrada para a reforma, terá direito entre 45% a 60% do vencimento. Uma pessoa com 40 anos terá cerca de 20 de Força Aérea. É natural que pensem se querem continuar ou mudar de vida", exemplificou.
Perante isto, o Chefe do Estado-Maior do Exército concordou e referiu que "existe muito a fazer" no que diz respeito aos salários e às condições financeiras da carreira militar. Mas, segundo Mendes Ferrão, nem tudo é negativo: "Um dos pilares fundamentais para a atratividade é a qualificação dos militares. E a equiparação da formação dos militares aos níveis do Quadro Nacional de Qualificações tem sido uma melhoria significativa e um fator de atratividade. Queremos que as pessoas se sintam dignificadas."
Já Nobre de Sousa, Chefe do Estado-Maior da Armada, estabeleceu duas prioridades para a Marinha: uma operacional (a necessidade de manter "o sistema de forças num regime de prontidão" tendo em conta o contexto geopolítico); e, em linha com o seus homólogos, a necessidade de "melhorar as condições de retenção", uma vez que se trata de "gente altamente qualificada, com experiência, tornando-se apelativos para o mercado de trabalho da sociedade civil".
Em 10 anos, referiu Nobre de Sousa, a Marinha perdeu "2300 militares". "Quando chegam aos 40 anos de idade, pensam se valerá a pena continuar", tendo em conta a pensão de reforma. Para quem entrou antes de 1989, será de "90% do ordenado". Entre 1990 e 1993, "é um regime misto e varia entre os 55% e os 70%". E entre "1993 e 2005, varia entre os 51% e os 70%". "Percebo as necessidades que o país teve na altura da troika", mas "isto é aplicar medidas a um conforme não uniforme por natureza. As coisas deviam ser vistas de outra forma. Há que olhar de forma diferente para o que é diferente".
Falando por videoconferência, o general Nunes da Fonseca, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, começou por fazer um enquadramento geral da conjuntura atual dos ramos militares, onde ressalvou que Portugal tem, neste momento, efetivo em 43 missões em quatro continentes. E tendo em conta que o país envia "há muitos anos" militares para vários empreendimentos em pontos do globo, "não se deve deixar de investir nos recursos humanos". "Não podemos deixar de ter essa participação", referiu Nunes da Fonseca.
Adquirir aviões F35 está em cima da mesa? "Portugal não tem alternativa"
Passando depois para o investimento em Defesa - que, na abertura, o ministro Nuno Melo defendera -, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea reforçou que, neste momento, "Portugal não tem alternativa" a não ser adquirir caças F35 que, apesar de serem dos Estados Unidos, são "montados na Europa".
"São aviões de quinta geração. Todos os países têm. A Alemanha, por exemplo, comprou 80 porque não há alternativa. Os aviões de fabrico europeu, do Rafale ao Eurofighter, são menos avançados. Podemos pensar num caça europeu avançado daqui a 20 anos, mas agora não há alternativa", frisou o responsável.
Nobre de Sousa, por sua vez, abordou a monitorização e proteção dos cabos submarinos, "muito importantes para as comunicações" - operação que é feita em conjunto com a Força Aérea. E neste campo, referiu, "a presença das forças armadas tem um fator de dissuasão grande". Ainda que "a Marinha nem sempre publicite as missões", já terão sido intercetados 143 navios russos em águas portuguesas. Por isso, "o tempo é crítico e a União Europeia não tem poder de comando. A NATO está, assim, muito longe de ter uma declaração de óbito".
0 Comentários