Com a análise desta posição de Vladimir Putin, Durão Barroso, que discursava na Academia Militar, na Amadora, afirmou que, “quando alguém acredita na palavra dele, é completamente ingénuo”, porque “pura e simplesmente ele está a mentir”.
“Se queremos ter um acordo [sobre a paz na Ucrânia], temos que ter garantias para além da sua palavra”, defendeu.
Recordando as palavras do ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, que falou antes de si, Durão Barroso afirmou também que “este período de paz e de estabilidade” se deve à existência da NATO, pelo que seria “irresponsável colocar em causa aquilo que tem sido a principal garantia dessa própria ordem na Europa”.
Notando, porém, que o “relacionamento [entre a Europa e os Estados Unidos] hoje em dia é diferente”, o antigo primeiro-ministro lembrou “reuniões” que teve com os presidentes norte-americanos Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton, em que “já diziam que a Europa devia fazer mais com a sua própria defesa”.
Se, por um lado, os Estados Unidos continuam a ser a principal potência da NATO, Durão Barroso sublinhou que a Europa precisa também de garantir a sua própria segurança, tendo em conta a mais recente posição norte-americana.
“Já não vamos garantir-vos a segurança como garantíamos antes. Isto foi dito literalmente pelo secretário de estado da defesa norte-americano numa reunião de NATO”, destacou.
Face a este cenário, o também antigo primeiro-ministro português defendeu que “a única forma de garantirmos a paz é estarmos preparados para a guerra. É o que está em causa.”
“Eu não pensava, há algum tempo, que estava a jogar-se também aqui o futuro dos meus filhos e dos meus netos. Eu não quero que os meus netos vão para uma guerra como aquelas que a Europa já conheceu no passado. Ora, a melhor forma de evitarmos que os nossos netos vão para essa guerra é hoje em dia estarmos com força suficiente para dissuadir qualquer um que queira lançar os nossos países em novas guerras”, analisou.
“A situação geopolítica global é, hoje, muito instável, volátil, polarizada, fragmentada, imprevisível e cada vez mais perigosa”, afirmou, acrescentando que, por este motivo, é fundamental construir uma “indústria de defesa europeia” que garanta a autonomia estratégica nesta área, mas sem se desligar da Aliança Atlântica.
“Estão, hoje, a aprofundar-se, a amplificar-se, a reforçar-se tendências que já vinham a fazer sentido há algum tempo, mas que, sobretudo, a partir desse acontecimento decisivo que foi a invasão da Ucrânia pela Rússia, procuram colocar em causa toda a ordem global existente”, continuou Durão Barroso, enquanto alertou para um quadro global marcado por uma guerra na Europa.
O antigo governante fez questão de salientar que era uma vantagem para si não estar estar em funções políticas, motivo pelo qual podia exprimir-se “com total liberdade”.
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